terça-feira, 21 de agosto de 2012

Pecados Sociais

Ao longo dos anos o Homem foi conquistando direitos e foi construindo convenções, regras, leis que ditam o que está bem e o que está mal, zelando para que as liberdades, deveres e direitos dos indivíduos sejam respeitados num contexto social. Esta construção perfeita coadjuvada pelas “leis do Senhor” num estado que é tudo menos laico, é abalada diariamente por aqueles que nos lembram que o Homem continua a ser um animal com instintos selvagens e macabros. 

Por mais que ao longo dos anos tenhamos tentado suprimir esse lado mais primitivo, catalisando os “maus fígados” de outras formas (desporto, meditação, medicação, psiquiatria) a verdade é que somos e seremos sempre vítimas da nossa “inteligência” ou falta dela num universo imperfeito e hierarquizado, onde o mais fraco é sempre o grande mártir. 

Estou certa de que não poderíamos existir sem opostos, pois são eles que se delimitam e dão significado um ao outro. Desta forma é utópico imaginar um mundo onde o bem prevaleça e o mal deixe de existir. Contudo, como seres racionais que somos podemos e devemos mudar condutas e comportamentos que, ainda que socialmente aceites, num triste paradoxo, são cruéis atentados aos direitos e liberdades de outros seres que connosco habitam este planeta. 

Falo, por exemplo, das touradas. Como é que um espectáculo que se baseia no massacre de um animal pode atrair multidões e ser legal. COMO? Porque se faz há desde 50 anos e é considerado tradição? Mas dentro dessas mesmas 5 décadas também cabe a PIDE, a censura, a perseguição aos judeus, aos ciganos e a outras etnias, que tal fazermos disso também tradição??? As Touradas não são mais do que um paradoxo ridículo criado para alimentar lobbies e usado para sacrificar animais, que também têm direitos, ou pelo menos deveriam ter. E é o Homem, que enquanto Ser consciente deveria lutar por eles, já que o Touro só tem cabeça para ter cornos, cornos esses que me alegram sempre que lixam com F algum toureiro. 

Sinceramente, as criticas aos aficionados contra e a favor, do género nem 8 nem 80,não me dizem “ponta de corno”. No meio estão os que não querem ver, os que preferem não pensar sobre o caso, os que preferem olhar para aquilo como se fosse um filme onde tudo é encenado (eu acredito que esta seja a atitude mais fácil, eu seria muito mais feliz a viver na ignorância não tenho qualquer duvida). Nas barricadas do Sim, estão os carniceiros insensíveis e inconscientes das liberdades de outros seres. Nas barricadas do Não estão outros carniceiros, a diferença está só na origem do sangue e da carne que querem. Eu não sou melhor do que nenhum aficionado das Touradas. Eu sou igual… o que nos distingue, é apenas o facto de eu não querer espetar o touro, mas sim o toureiro.   

Passando das touradas para as peles. Muitos usam o argumento, de esta ser uma prática ancestral. Já os australopitecos o faziam. Sim… Mas aproveitavam tudo, a pele, a carne, os ossos. Estamos a falar de sobrevivência e não luxos supérfluos. Mas já que gostam tanto desse exemplo, eu gostaria de questionar porque não paramos então a nossa evolução e deixamos de ir ao médico, damos mocadas nas gajas para acasalar, deixamos de ter luz, agua e gás e passamos a fazer fogueirinhas. Não?? Então? Mas a evolução afinal só se dá em alguns sentidos por que motivo?  

Passamos a seguir para a célebre frase de ”a tua liberdade acaba onde começa a do outro”. Que coisa tão linda. A verdade é que vivemos todos numa rede demasiado intrincada para que as nossas decisões e actos não afectem os outros. E já agora a minha vida deve pertencer ao “outro” já que nem com ela eu posso acabar se considerar que não vale a pena viver. O não à eutanásia é a decisão mais egoísta que um ser humano pode ter sobre outro e sobre a tal liberdade que não devemos interferir. 

Sinceramente, eu acho que só seria feliz numa caverna a viver como um australopiteco e sem saber que meio mundo anda a matar outro meio. É impossível viver a vida em toda a sua plenitude… impossível. Dou graças a Deus por o meu pai me ter passado os valores que me passou, de respeito pelos Outros, todos, sem excepção, depois mais tarde, fui eu que decidi respeitar só alguns. Esforço-me todos os dias para que a minha revolta e inadaptação a esta sociedade de merda me deixem viver mais alguns anos sã…. Se é que ainda o sou!!! 

E atenção que eu não defendo que deveríamos andar para ai a comer pedras porque até as alfaces choram. Eu defendo mortes dignas para os animais que consumimos e vamos continuar a consumir numa cadeia alimentar existente e convencionada por leis que nos ultrapassam.

3 comentários:

  1. Concordo que no mundo é impossível existir só o Bem...existe também o Mal. Cabe é ao ser humano, pelo seu lado racional e através da sua consciência, mudar comportamentos e condutas menos boas e praticar o Bem, ser a melhor pessoa.

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  2. Nota-se muita amargura na tua escrita e até raiva.
    "Sinceramente, eu acho que só seria feliz numa caverna a viver como um australopiteco e sem saber que meio mundo anda a matar outro meio. É impossível viver a vida em toda a sua plenitude… impossível." Penso que para seres feliz tens de tentar mudar aquilo que está mal aos teus olhos mas noutras alturas tens de ver apenas o que te faz feliz caso contrário, como bem disseste, dás em maluca. Se te concentras nas desgraças qualquer dia percebes que a vida passou e não aproveitaste as coisas boas. Parece que desgraça atrai desgraça...
    É isto que tento dizer para mim quando ando mais em baixo ;)

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  3. Acredito num mundo com maiores igualdades sociais, em pessoas que fazem o bem porque conheço muitas, felizmente. Quanto às diferenças são saudáveis, já as atrocidades cometidas por algumas pessoas já nem é só para os chamados "animais", mas para toda a sociedade. Hoje se banaliza a vida. Por vezes, as pessoas gostam de algo, mas não encontram qq razão lógica para defenderem a sua posição, andam às voltas com a palavra tradição e talvez nem saibam o que a mesma significa. Ser a favor do touro não é ser contra quem não o é, é defender uma causa, os animais. Ser ateu, não é ser contra o Deus das pessoas, é defender que não acredita. Andamos perdidos em bater e nem sempre sabemos em quem :)

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