quarta-feira, 13 de março de 2013

Pita obstinada

Acordei com os raios de sol a baterem-me na face. Olhei para o relógio ainda atordoada pelo sono e reparei que já passavam das 7 da manhã. "E agora?" Pensei eu para mim, tentado controlar a angustia de um acordar tardio, tentando acalmar-me e dizer para mim mesma que tudo iria correr bem.

Peguei na mochila que já tinha preparado previamente. Na verdade, desde dia 1 de Fevereiro que já estava tudo pronto. Sim, faz hoje um mês que me preparo para este dia. 

Desço as escadas e oiço a voz esganiçada da minha mãe - "Mónica Carla tu não me sais de casa sem enfiar pelo menos uma sande de paio no bucho" - ignorei... Tinha de ignorar. Não tinha qualquer apetite, na verdade sentia como que um nó na garganta e nem sequer podia perder mais um minuto.

Arranquei. Ouvia já ao longe - "MÓNICA CARLAAAAAAAAAAAAA volta aqui já antes que leves uma lambada nessa tromba!!! Mónica Carla quando o teu pai voltar eu vou contar-lhe. Ficas um mês........" - E pronto, já não consegui ouvir mais nada. Mas eu já sabia como era. Sempre que desobedecia à minha mãe ficava uma semana sem comer doritos e mais duas sem ver MTV. Mas valia a pena. Oh se valia...

Apanhei um taxi até à estação e respirei fundo. Sim, estava no caminho certo. Tudo iria correr pelo melhor (repetia esta frase vezes sem conta, talvez na tentativa de me tranquilizar para o incerto). 

Paguei ao taxista e já na estação esperei pacientemente pelo comboio alfa pendular que chegaria daqui a umas 4 horas. Ainda tinha dores, muitas dores. Tinha feito duas tatuagens ainda não fazia uma semana. Eram grandes e ainda me doíam sempre que fazia certos movimentos bruscos. Desviei a minha mente e tentei ignorar a dor. Só pensava no proposito de tudo isto, só pensava que o amava e só pensava que iria ser feliz.

De repente acordo com um barulho ensurdecedor. Era o comboio. Estava na hora. Levantei-me, virei-me para apanhar a mochila e entrei em pânico. Alguém ma tinha roubado. E agora? Sem bilhetes? Sem dinheiro? Sem roupa? O que iria fazer? Voltar para casa? Nem pensar!!! Ia em frente fossem quais fossem os obstáculos. 

Falei com a menina da bilheteira e expliquei a situação. Ela disse-me que eu poderia "embarcar" na mesma, mas teria de ir na zona de cargas, uma vez que não tinha bilhete. Assim foi. Acomodei-me entre caixotes e relaxei até sentir uma forte dor numa mão. Tinha sido mordida por uma ratazana. BOLAS!!! Teria apanhado peste bubônica? tifo murino? Hantavirose? Não sabia, mas também não interessava - "Para a frente Mónica Carla. Para a frente é que é o caminho".

Infelizmente a carruagem de carga não tinha janelas. Quando dei por mim, tinha passado a estação. Estava "algures" sozinha, sem dinheiro, sem telemóvel, NADA!

Vi um grupo de rapazes com péssimo aspecto. Era de noite, não havia mais ninguém à vista. Tinha de arriscar e perguntar-lhes onde estava. Assim o fiz. "Má ideia" pensei logo para mim. Eles rodearam-me, miraram-me de alto a baixo e violaram-me um a um. Ufa... Era já de manhã quando me deixaram em paz. Mas pelo menos tinham um melhor desempenho que a equipa de vólei lá da escola. Fiz-me ao caminho. Era de madrugada quando passou o primeiro taxi. Fiz sinal para ele parar, corri para a frente do carro e a partir dai não me lembro de mais nada. 

Tinha sido atropelada por um condutor alcoolizado e estava no hospital com um traumatismo craniano. Pensei para mim - "Boa. Pelo menos não parti nenhuma perna. Ainda posso andar e fazer-me ao caminho."

Sai sorrateiramente do meu quarto. Encontrei um senhor muito bem parecido que se ofereceu para me ajudar e levar-me onde eu queria. Agradeci com um sorriso e acompanhei-o até ao carro. Nunca tinha ido a Lisboa, não fazia ideia de onde estava, mas percebi que ele não me estava a levar para o caminha certo. Estava a ser raptada, conclui. 

Ele amordaçou-me e fechou-me numa arrecadação. Todos os dias me obrigava a massajar-lhe os pés e a engraxar-lhe os sapatos. Nunca sequer me sodomizou. Ele só queria abusar de mim - Trabalho escravo. Sem ele ver olhei para o seu telemóvel. Era dia 10. Fiquei aterrorizada. Um medo febril apoderou-se do meu ser. Não! Eu não podia ficar mais ali. Escapuli-me saltando da janela do 3º andar. Parti ambos os tornozelos, mas e então? O que era essa dor quando comparada à de faltar ao concerto do Bieber?

Arrastei-me. Fui de rojo alguns quilômetros e vi, como quem vê a luz. Era o pavilhão atlântico. Sim, só podia. Milhares de pitas aos saltos a fazer um barulho ensurdecedor - gritos, risos histéricos, cânticos do demo Justin - Sim! Eu havia chegado.

Enchi-me de coragem para continuar esta dura caminhada rastejante. Estava alegre, estava feliz. Os meus olhos brilhavam como se tivesse a ver dois faróis. O barulho era cada vez mais ensurdecedor. Pelo meio pareceu-me ouvir o barulho de um comboio nos carris. "Comboio?" pensei eu. Deve ser mera impres...



 NOTICIA DE ÚLTIMA HORA

"Jovem de 13 anos encontrada na linha de comboios do Parque das Nações com as tatuagens ilustradas acima. Se sabe de quem se trata, por favor entre em contacto."

P.s - Homenagem às novelas mexicanas escritas pela minha irmã em tenra idade e só para apreciadores de humor negro.

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